05 fevereiro 2020

A defesa da soberania é urgente, não temos tempo para ter medo


Deyvid Bacelar, técnico de Segurança na Refi naria Landulpho Alves, na Bahia e militante do movimento sindical petroleiro, comenta em artigo de opinião sobre a soberania e as ameaças de privatização das estatais no Brasil

No Artigo 1º da Constituição, a soberania é o primeiro dos cinco fundamentos que nos definem como Estado Democrático. Mas, desde que assumiu a Presidência do Brasil, não houve um só dia em que Jair Bolsonaro tenha governado o país com base nesse fundamento, cujo princípio é a defesa dos interesses nacionais.

Sem projetos estruturantes que façam o Brasil voltar a crescer, o ministro da Economia, Paulo Guedes, empurra o país para o abismo. Trouxe de volta o velho e ultrapassado liberalismo dos anos 1980, que privatizou nações inteiras e cujos resultados estamos vendo hoje no Chile, com o povo nas ruas, lutando por aposentadoria, educação, saúde e empregos dignos.

As reformas e privatizações que Bolsonaro implementa a toque de caixa seguem a lógica colonialista de um Estado mínimo para o povo e máximo para os empresários, banqueiros e seus amigos norte-americanos. Além de dilapidar nossas riquezas naturais, seu governo é responsável por um desmonte sem precedentes do setor público.

No caso do Sistema Petrobrás, a privatização vem sendo feita aos pedaços, desde o golpe do impeachment da expresidenta Dilma Rousseff. Até o terceiro trimestre de 2019, a gestão da empresa já havia vendido R$ 149 bilhões em ativos, com prejuízos incalculáveis, que vão muito além dos valores negociados. Para se ter uma dimensão desse crime, cerca de 50% de todo o patrimônio estatal privatizado no Brasil ao longo deste período pertenciam à Petrobrás e às suas subsidiárias.

No governo Bolsonaro, o desmonte da empresa foi acelerado. Investimentos estratégicos que o Estado fez na Petrobrás por mais de seis décadas estão sendo doados às multinacionais. Investimentos que garantiram ao povo brasileiro independência energética, uma indústria nacional pujante, através do desenvolvimento de toda a cadeia produtiva de óleo e gás, e a descoberta do Pré-Sal, que colocou o nosso país entre as cinco maiores reservas de petróleo do mundo.

O que vemos hoje é a submissão do Brasil de novo ao atraso. Vamos permitir a volta do ciclo colonialista de espoliação das nossas riquezas, como fizeram no passado com o Pau Brasil, o açúcar e o ouro?

Os governos Lula e Dilma já provaram que o caminho a seguir é inverso ao do atual governo. O Brasil só voltará a gerar empregos de qualidade, se fortalecer as empresas estatais, se investir na indústria nacional e se ampliar as políticas públicas.

Como trabalhadores e trabalhadoras organizados, cabe a nós defendermos a soberania nacional, disputando mentes e corações para que reconquistemos o projeto democrático popular que colocou o nosso país no trilho do desenvolvimento e resgatou o orgulho e a dignidade do povo brasileiro.

Mas, isso só será possível, com muita luta nas ruas e nos locais de trabalho, construindo uma greve geral forte e unificada. Como nos ensinou o negro baiano e revolucionário Carlos Mariguella, não temos tempo para ter medo.

A defesa da soberania é urgente.

Este artigo de opinião foi publicado na Edição 294 do Jornal do Sintsef. Para conferir esta edição e o seu conteúdo completo, além das edições anteriores do jornal, clique aqui.

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