Fitas coloridas, painéis de guache e tapiocas marcam ato do IPHAN
Localizado ao lado do Theatro José de Alencar, enfrente a uma praça que parece esquecida pelo poder público, rodeado de moradores de rua, respira o prédio do IPHAN Ceará. Respira é a palavra exata, ainda que prédios não respirem. Mas, este é o termo que melhor exprime a situação do órgão no Ceará. Com menos de 20 trabalhadores, dentre concursados do serviço público federal, terceirizados, estagiários, bolsistas, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional agoniza com a falta de verbas direcionadas à cultura, com a falta de servidores e com os péssimos salários e condições de trabalho.
Duas lindas castanholeiras, palmeiras diversas e uma bela arquitetura marcam a frente do prédio do IPHAN. A sombra das árvores talvez seja um reduto importante para os servidores daquele órgão buscarem força para seguir suas jornadas, diante de tanto desmotivo que vivenciam governo após governo.Nesta segunda-feira, 29 de agosto, foi aproveitando essa sombra que os funcionários reuniram-se, cruzaram os braços e manifestaram, em um dia de paralisação os descontentamentos com o governo atual. A ação segue um movimento nacional que pede o cumprimento de acordo firmado com o governo federal em 2007, que previa reajustes conforme o plano de carreira. Eles reivindicam ainda a regulamentação das gratificações e são contra o projeto de Lei Complementar (PLP) 549, que limita despesas da União com salários. Hoje os salários dos servidores do Ministério da Cultura, com exceção dos que trabalham na Ancine (Agência Nacional de Cinema) e na Casa Rui Barbosa, são os menores do serviço público federal.
No Ceará a criatividade marcou o ato. Os trabalhadores decoraram o prédio com fitas coloridas e painéis pintados pelo técnico de arqueologia Jeferson Hamaguchi (de vermelho nas fotos), o estagiário João Moreira e pela arqueóloga Verônica Viana. Para completar distribuíram tapiocas para os que por ali passaram. A ideia, além de ser um atrativo para que as pessoas prestassem atenção no movimento, aproveitou para lembrar itens da cultura nordestina.
De acordo com Célia Perdigão, representante dos servidores do IPHAN Ceará, a realidade da cultura no Brasil desanima e desestimula os que sabem de sua importância. “O governo não consegue compreender que a partir da cultura é possível fazer uma revolução na qualidade de vida das pessoas”, afirma Célia. Na verdade ela mesma justifica a falta de ação do governo com duas teorias: “ou as pessoas que governam esse país, ano após ano, são muito ignorantes e não conseguem perceber o valor da cultura como agente modificador da sociedade ou, pelo contrário, são muito astutos e não querem promover a cultura para não vivenciarem a evolução do povo, sob risco de perderem seus tronos”, explica.
O IPHAN é uma Autarquia Federal, vinculada ao Ministério da Cultura, responsável pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. No Ceará o acervo tombado pelo IPHAN inclui 16 bens imóveis, 1 bem móvel, 4 sítios históricos urbanos e uma paisagem natural. Dentre eles podemos destacar o Passeio Público, o Theatro José de Alencar, em Fortaleza, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção (mais antigo templo cearense), em Viçosa do Ceará, o mercado da carne, em Aquiraz, o Sítio Histórico de Aracati, dentre tantos outros.
A manifestação desta segunda-feira foi apoiada pelo SINTSEF/CE. Confira as fotos desse momento.
Comentários Comentar