29 maio 2020

Revista Fórum: Atila Iamarino pergunta, “Se somos o novo polo mundial de Covid-19, antes de relaxar medidas, que dirá depois?”


Na semana em que o Governador Camilo Santana apresentou o “Plano de retomada das atividades econômicas e comportamentais” para o Ceará, assim como São Paulo, Amazonas e Pará, o biólogo questionou as iniciativas dos gestores brasileiros e ainda ironizou afirmando que a “medida mais efetiva” do governo para reduzir o número de casos do coronavírus no país é fazer poucos testes

Por Redação da Revista Fórum

Doutor em ciências pela USP, o biólogo Atila Iamarino alertou para a reabertura do comércio sem “fazer a lição de casa” diante da pandemia do coronavírus, medida que está sendo tomada por várias cidades e estados.

“Somos o novo polo mundial de Covid-19, antes de relaxar medidas. Que dirá depois”, escreve em artigo na edição da Folha de S.Paulo desta sexta-feira (29), citando uma história de Richard Feynman, prêmio nobel de física.

“Reabrimos como lá [em relação a países que já enfrentaram picos da pandemia e estão reabrindo a economia], enquanto cá os números só aumentam. Richard Feynman, físico nobelista marcante, conta em sua autobiografia sobre a ciência culto à carga, quando se segue um ritual sem mudar causas. O termo vem da simplificação de um fenômeno real. Quando nativos de ilhas ocupadas no Pacífico viram aviões pousando e desembarcando comida e manufaturados, começaram a construir pistas de pouso e até torres de controle de madeira e bambu, na esperança de atrair a carga vinda dos céus. Como nós fizemos por aqui, ao tratar de abertura sem queda consistente de casos diários”, diz o biólogo.

O biólogo ainda ironizou a “medida mais efetiva” do governo para reduzir o número de casos do coronavírus no país: fazer poucos testes. “Que a próxima medida não seja sumir com os números de vez, para tentar trazer o avião do PIB”.

Recorde
Nesta quinta-feira (28), o Brasil bateu recorde no número de contaminados em 24 horas, com 26.417 novos casos da doença, bem acima do que foi registrado na última sexta-feira – 20,8 mil, o número mais alto até então. O número de mortos passou novamente dos 1 mil no período, com 1.156 vítimas da doença.

No total, o Brasil já registra 26.754 óbitos em decorrência da Covid-19. Agora, são 438 mil pacientes infectados ao todo.

O Brasil já se aproxima do números de mortes de registradas por alguns países europeus que viveram um drama nos meses anteriores e conseguiram conter o avanço da doença com o isolamento social rígido. Espanha, França e Itália possuem 27,1 mil, 28,6 mil e 33 mil vítimas fatais, respectivamente.

Lição de casa
Esses países, segundo Átila Iamarino, fizeram a “lição de casa”: Adotaram isolamento social efetivo e seus líderes comunicaram claramente a importância da população seguir essas medidas. Reduziram o número de pessoas que alguém com o coronavírus infecta para menos de 1 na média (o famoso R0). Com menos de uma pessoa infectada por outra, o número de casos entra em declínio e o surto local entra em controle.

“Já o Brasil ensaia a reabertura como europeus fazem. Alguns certamente já se preparam para vestir calça social pela primeira vez em meses. Só estamos ignorando uma etapa, um detalhe, que calha de ser o principal: o controle da pandemia”, diz o biólogo em seu texto.

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